domingo, 5 de outubro de 2014

Nada é impossível de mudar


Ando sentindo falta de escrever impressões do momento vivido neste blog, vamos matar a saudade:

Comecei a me interessar por política aos 12 anos, meu pai levava a família à comícios na cidade onde morávamos, ele sempre se identificou com o partido Trabalhista e com os Brizolistas. Então, em 1984, colava cartazes na rua da minha casa para o PDT.
Mas participando de grupos de jovens, lendo e conversando optei em 1986 em fazer campanha para o PT (ainda não tinha idade para votar). O programa deste partido identificava-se muito mais com o que eu pensava e deseja para nosso país, e deste ano em diante, faço campanha para o PT, isto significa que gastei muito do meu tempo, energia, dinheiro, sonhos, construções e frustações com este partido.
Chegamos ao governo (não ao poder), mas ainda há tanto a avançar na política e nos processos democráticos. 

Sempre ao final de uma eleição, fico decepcionada, as discussões aos governos são sempre superfíciais e pouco ideológicas. E o pior são os congressistas escolhidos pela população para nos representar nos parlamentos, a maioria das bancadas são sempre conservadoras e comprometidas a manter os interesses das grandes corporações, empresários e do Capital.

Nada é impossível de mudar, só que o processo é longo e cheio de armadilhas e podemos nos perder pelo caminho ...


Como amo poesia, escolhi o poeta Bertold Brecht para ilustrar o dia de hoje.

O Analfabeto Político

Bertold Brecht


"O pior analfabeto é o analfabeto político. 
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. 
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. 
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. 
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo." 


Nada é impossível de Mudar.

"Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. 
E examinai, sobretudo, o que parece habitual. 
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar." 


Privatizado

"Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. 
É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence."




        Se os tubarões fossem homens

 Bertold Brecht




Se os tubarões fossem homens, eles seriam mais gentís com os peixes pequenos. 
Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais. 
Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adotariam todas as providências sanitárias cabíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim de que não moressem antes do tempo. 
Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos.

Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubarões. 
Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. Aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixinhos. Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos. 

Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência. Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista. E denunciaria imediatamente os tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.

Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre si a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros.
As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. 

Eles ensinariam os peixinhos que, entre os peixinhos e outros tubarões existem gigantescas diferenças. Eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro. 

Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos da outra língua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.

Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte, haveria belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas guelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nas quais se poderia brincar magnificamente. 

Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos tubarões.
A música seria tão bela, tão bela, que os peixinhos sob seus acordes e a orquestra na frente, entrariam em massa para as guelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos. 

Também haveria uma religião ali.
Se os tubarões fossem homens, eles ensinariam essa religião. 
E só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida. Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros. Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões, pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar. E os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiros da construção de caixas e assim por diante. Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.




Sugestão de site com poesias de Bertolt Brecht:
http://www.culturabrasil.org/brechtantologia.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário